NUNCA MORE DEFRONTE A UMA BOITE
Corriam os anos 60 e a Boite 1003 fazia um sucesso danado. Era a única em Vila Abernéssia, embora, à época, Campos do Jordão possuÃsse 7 casas noturnas.
Os alemães Elfrid e Werner Ruhig abriram o negócio na Rua Brigadeiro Jordão, 1003. Acho que os seus primeiros frequentadores foram o saudoso José Pasquarelli e o cronista. Foi lá que ouvi de Pasquarelli, pela primeira vez, a frase “A noite é uma criançaâ€. A boite só tocava Billy Vaughan a noite inteira e era a única no Brasil que tinha conta-corrente. Punha na conta a despesa etÃlica. Depois de casado o cronista foi morar na Rua Brigadeiro Jordão de fronte à Boite 1003 do saudoso Werner. Logo nos primeiros meses, duas coisas o incomodavam: o trânsito pesado de caminhões e o barulho dos frequentadores da casa, quando entravam e quando saÃam.
Uma noite, porém, a situação ficou insuportável. É que a partir da meia-noite, alguém deixou o rádio do veÃculo estacionado defronte à boite, ligado em som elevadÃssimo, som que entrava na residência do cronista. Não era possÃvel dormir com aquele barulhão. Ora, tocava músicas japonesas, ora italianas, ora brasileiras. A esposa do cronista dizia: “Calma que já vai parar, tenha paciência†O quarto do casal dava para a rua e os sons invadiam o quarto, de modo que era possÃvel ouvir as músicas, mas impossÃvel pegar no sono. Na primeira hora da madrugada os sons eram altÃssimos. Dormir jamais.
Às duas horas da madrugada os sons persistiam e o casal não conseguia dormir. Às três horas madrugada o som do rádio do veÃculo estacionado defronte à boite estava insuportável. O cronista, foi ficando nervoso com aquele som insuportável e disse à esposa: “Vou abrir a janela e saber quem é esse desgraçado, maldito e arruaceiro que perturba o sossego público ou então chamar a polÃcia. Vou mandá-lo para aquele lugar e se for para brigar, vamos brigar. A esposa, recém-casada ficou apavorada a com a cena e dizia: “Tenha calma. Tenha calmaâ€. Mas não era possÃvel ter calma diante de tão desagradável episódio. O cronista levantou da cama descabelado, abriu a janela com violência, fulo de raiva, e pos a cabeça para fora. Viu logo um veiculo estacionado defronte a boite, de onde vinham os sons do rádio ligado. O proprietário do veÃculo esta em pé ao lado. Quem era ele? Quem era aquele desgraçado, maldito e baderneiro? Era, nada mais, nada menos que o publicitário PlÃnio Freire de Sá Campelo, que logo identificou o cronista na janela da casa, foi gritando: “Ó meu caro lawyer of the crime†(advogado do crime), expressão que ele sempre dizia quando se encontrava com o cronista. Foi logo dizendo, em altas vozes: “Furaram os 4 pneus do meu carro, não posso ir embora. Não passa ninguém para me socorrer. Então, estou ouvindo música desde a meia-noiteâ€. O cronista descabelado, na janela, perdeu o rebolado e engoliu todas as pragas, maldições e palavrões que iria desfechar contra o bagunceiro. Poxa! Era PlÃnio Freire de Sá Campelo, tio da cantora Cely Campelo, o homem que montou o Rally do Rádio, pela Radio Panamericana, o vice-diretor de Turismo de Campos do Jordão, o promotor do evento “Sete Noites e Sete Dias de Romance e Poesiasâ€, o presidente do Tênis Clube de Turismo, o home que criou a famosa legenda: “Campos do Jordão, a 1.800 metros acima das preocupações!â€, o chamado “Prefeito da Noiteâ€, pelos eventos que realizava em Campos do Jordão. Depois de tudo, o cronista que estava enfurecido leão virou um manso cordeiro. Batemos papo até o sol aparecer.
Daà o conselho ao leitor: Nunca more defronte a uma boite!
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