A VIOLINHA
A prostituição em pequenas cidades do interior não era rara nos longÃnquos
anos da década de 50. A pressão social, o pároco, as beatas, o preconceito caboclo, os
polÃticos hipócritas, sempre lutaram pela eliminação das "zonas".
"Zona" era privilégio das capitais e de grandes cidade e com esse nome sedesignava o bairro, a região ou as ruas onde se explorava a prostituição. Embora não segregada em zonas delimitadas, nem por isso nas cidades de pequeno porte deixaram de existir as conhecidas mercadoras do corpo, as mulheres da vida, que alguns costumam chamar erradamente de mulheres de vida fácil. Vida fácil deve ser uma conceituação machista mulher nenhuma neste mundo de Nosso Senhor Jesus Cristo, pode considerar fácil uma
vida tão penosa e sacrificada. Contudo, foi uma das primeiras profissões do mundo. A
mais famosa prostituta jordanense foi sem dúvida a "Violinha", cognome de Maria
Angélica Barbosa, que fez furor junto à mocidade jordanense nos anos 50 e 60.
"Violinha" era a pessoa mais popular da Estância e, se fosse candidata a algum cargo,
seria eleita com grande votação. Como seria essa modesta mulher da vida? Seria
morena, alta de cabelos negros, de andar sedutor e chamativo? Seria ruiva,
curvelÃnea, brejeira e cheia de dengos? Nada disso, leitor. Por incrÃvel que pareça,
"Violinha" era uma velha senhora, encarquilhada, de pernas finas e tortas, que se
vestia pobre e desajeitadamente, tocando o vestido as suas canelas. Suas vestes eram
de cores berrantes e gostava de pintar o rosto exageradamente, com rouge e baton. Era
uma mulher caipira, de fala rural. Que atrativos fÃsicos poderia proporcionar essa
figura popular junto á mocidade jordanense naqueles idos tempos? Nenhum,
absolutamente, nenhum. De vez em quando, "Violinha" abusava da cachaça e era comum
vê-la andando sozinha em zigue-zague ou então encostada n'alguma parede, balançando,
balançando... DifÃcil era vê-la acompanhada, pois as pessoas tinham vergonha de
figurar ao seu lado, sob a luz do sol. À noite era procuradÃssima e sua casa muito
concorrida. Os jovens judiavam muito dela. Era uma pobre infeliz que, em troca do seu
encarquilhado corpo, recebia alguns trocados, quando recebia. Davam-lhe o "cano",
depois de usá-la. Outros passavam na rua onde ela morava e quando percebiam que ela
recebia "clientes", atiravam pedras no telhado de seu pobre barraco, provocando um
barulho infernal e grande susto em seus ocupantes. Campos do Jordão teve muitas
figuras populares, como João Leite, Maria Miné, Pão-de-ló, Mudinho, Paulinho
Sofredor, CecÃlia e Quarta-feira, Pantaleão, Pombas de Grilo e Rosa Louca. Nenhuma,
porém, teve mais fama e carisma do que a "Violinha". Deus a guarde em paz.
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