PÉSSIMO DE ORATÓRIA
Invariavelmente, somos chamados a falar em público. E o pior, aceitamos, embora seja forte a nossa timidez. Desde os anos 50, fomos orador do antigo CENE, atual Escola de 1o e 2o Grau “Theodoro Correa Cintraâ€. Depois de formados, atuamos intensamente em Tribunal do Júri, encantados por aquela especialidade criminal, o que nos levou até a escrever “Grandes Advogados, Grandes Julgamentos (No Tribunal do Júri)â€. Encantou também muita gente, porque o livro vai para a quarta edição. Aprendemos algumas lições na Oratória. Primeira: o orador deve falar alto para que o ouça o último que estiver sentado na última cadeira. Segundo: deve falar claro para que o ouvinte entenda o que ele está dizendo. Terceiro : deve falar pouco para ser aplaudido. A propósito, outro dia o ex-governador Geraldo Alckmin disse uma coisa corretÃssima: o discurso tem partes: o inÃcio, o meio e o fim. E o discurso bom é aquele que o inÃcio está pertinho do fim. Se não for assim, pensamos, o discurso acabou, mas o orador continua falando sem parar. Afinal de contas, não era isso que desejamos escrever. O nosso tema foi um episódio ocorrido no inicio dos anos 70, quando éramos vereador. O presidente da Câmara Municipal, o saudoso Fausto Camargo, pediu-nos que saudássemos dois ilustres homens públicos que estavam à mesa: o vice-governador Laudo Natel (depois governador) e o deputado Paulo Planet Buarque que, à época, possuÃa residência em Campos do Jordão. Acostumamo-nos a brincar. Quando falamos no inicio da festa, auto-denominamo-nos de maionese, que é servida logo no começo e quando falamos ao final, chamamo-nos de arroz-doce, que é a sobremesa. Temos o velho costume de, em meio a oração, reproduzir episódio histórico, uma frase de efeito ou ainda, uma lenda, para não cansar o ouvinte. Pois naquele dia, fomos contar uma lenda oriental. Ela dizia – e nós a reproduzimos em meio ao discurso – o seguinte: havia um califa árabe, muito rico, mas completamente cego, e por isso havia uma pessoa que dele cuidava diariamente, noite e dia. O califa pediu ao seu criado de companhia que comprasse um cacho de uvas, dizendo ao serviçal: “Olha, eu chupo uma e você outra, ou seja, cada um pega uma, tá certo?†o criado concordou e aà começaram a chupar as uvas, mas, em dado momento, o criado recebeu um bofetada de seu senhor, e surpreso indagou: “Por que me bate, meu califa?†O patrão respondeu: “Fiz um trato com você que não está sendo cumprido, seo sem-vergonha!†E completou: “Estou tirando do cacho duas uvas em vez de uma, e se estou tirando duas, com seu silêncio, é porque você está tirando três, seu desonesto!†Lamentavelmente, esquecendo que estávamos saudando um vice-governador de Estado e um deputado ligados ao Poder Público, concluÃmos desastrosamente o discurso com uma conclusão horrÃvel: “Este é o retrato da administração pública brasileira: quando o chefe tira do cacho duas uvas é porque o empregado está tirando três!†Foi uma infelicidade, escolhemos uma história errada para pessoas erradas num lugar errado. É um pálido exemplo de gente péssima em oratória. Quando nos apercebemos da gafe, só restou dizer: “Santa Bárbara!†Esquecemos que a palavra é uma das poucas coisas na vida que, depois de ditas, não voltam mais!â€.
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