ACONTECE CADA UMA NESSE SENADINHO...
Dentre as muitas peculiaridades da população jordanense uma se destaca: as pessoas sabem muito pouco sobre a denominação e a localização das vias públicas. “Sabe onde mora fulano?â€. O outro responde: “O nome da rua não sei, mas, você sabe onde fica a Padaria Santa Clara? Pois bem, passando a padaria, você entra na segunda rua à esquerda, depois na primeira travessa à direita, é a terceira casa, de janelas verdes. Entendeu?†Agradecido o solicitante diz: “Obrigado, agora já sei onde ele moraâ€. O episódio acontece a toda hora. Se o leitor indagar onde fica a Rua MaurÃlio Comoglio, poucas pessoas saberão responder, mas, se perguntar onde fica a Rua do Senadinho, qualquer um vai logo localizá-la.
O Senadinho transformou-se em logradouro turÃstico-musical de Campos do Jordão, muito freqüentado por turistas que gostam de curtir serestas, e, infelizmente, pouco visitado pelos moradores da cidade. Nos finais de semana, a casa fica cheia para ouvir o seresteiro Daniel Cintra, com seu vozeirão caracterÃstico, acompanhado por seu fiel conjunto musical. Outro dia, ali aconteceu uma coisa que jamais esquecerei. Estava com amigos bebericando cerveja e saboreando tira-gosto, quando, aproximou-se um cidadão de meia idade, vestido esportivamente, e perguntou: “O senhor é o Pedro Paulo Filho?†Brincando respondi: “Sim, até a meia-noite, porque depois viro lobisomemâ€. Sem sorrir, o cidadão apresentou-se: “Sou desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, estou ali na mesa ao lado com familiares, e com o ministro Sidney Sanches, aposentado, do Supremo Tribunal Federal. Ele gostaria de cumprimentá-lo. O senhor poderia ir até a nossa mesa?†Pensei comigo, de duas, uma, ou eu ou o meu interlocutor está de fogo, pois, não era possÃvel que no Senadinho estivesse o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, o grande jurista que presidiu o Congresso Nacional quando do julgamento do ex-Presidente da República, Fernando Collor de Melo. Respirei fundo, alinhei os cabelos, arrumei as vestes e fui em direção à quela enorme mesa, cheia de pessoas de certa idade e de jovens que ouviam Daniel Cintra cantar musicas de Orlando Silva, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Silvio Caldas e tantos famosos cantores da musica popular brasileira. Meu Deus! Era verdade! Levantou-se da mesa o ministro Sidney Sanches, personalidade ilustre sempre presente na mÃdia impressa e eletrônica do PaÃs e também pelos luminosos votos na Suprema Corte em julgamentos que abalaram o Brasil.
Elegante e afável, e ainda guardando as marcas fÃsicas do jovem e bonito magistrado do passado, disse: “Como vai, Pedro Paulo? Comecei minha carreira de magistrado na Comarca de São Bento do Sapucaà há muitas décadas e você foi um dos advogados que atuaram naqueles idos tempos. Como estou passando alguns dias com minha famÃlia em Campos do Jordão, lembrei-me da minha primeira comarca, aqui pertinho, e o seu nome ficou na minha memória. Por isso, pedi para cumprimentá-lo e quero saber como você estáâ€. O episódio foi tão gratificante que, se estivesse de porre, ele teria desaparecido imediatamente. Respondi: “Lembro-me sempre do senhor presidindo audiências no Forum de São Bento do SapucaÃ, quando lá advogava. E me recordo também da surpresa que senti quando me deparei com um juiz de direito tão jovem, elegante, cordial, e que mais parecia um ator de cinema que um magistrado. E surpreso estou agora de saber que o tempo não lhe deixou marcas nem as cicatrizes da idade, apesar de décadas!†Ele sorriu, agradeceu e, saudoso, recordou-se da sua primeira comarca, onde iniciou um deslumbrante carreira no Poder Judiciário brasileiro. Acontece cada uma nesse Senadinho...
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