O Tesouro do Brigadeiro Jordão
Diz a lenda que, em tempos ignorados,
Nos fastos de ontem, após Oyaguara,
Pelas bandas da Serra, transportados,
A busca do ouro, a muitos inspirara.
Abraçados à alma da selva agreste,
No cipoal da imponente mata virgem,
Nem as feras os detinham, nem a peste
Que grassava, nem a febre e a vertigem.
Eram os cavaleiros da aventura,
Que descendo vales, rasgando serras,
No êxtase da conquista - que loucura!
Iam em busca de ouro em outras terras.
Bela, a lenda atravessou fronteiras,
Até onde antes nunca ninguém ousara,
Nas divisas paulistas e nas mineiras,
Célere, correu a mensagem rara.
Nos Campos do Jordão, em noite escura,
Um dos bandeirantes, dentre os primeiros,
O velho Jordão, de linhagem pura,
Semeara um tesouro entre três pinheiros.
Luzente fortuna de pedrarias,
Em baús de carvalho, bem guardados,
No ventre da terra, noites e dias,
Repousava o ouro dos antepassados.
Castelos de areia, contos de fadas,
A busca do tesouro fora em vão:
Nada restou na ânsia desesperada,
Somente covas e sulcos ao chão.
Por meses a fio, dezenas de anos,
Não desertou, ainda hoje, o garimpeiro,
Que busca, desafiando desenganos,
O rico tesouro do Brigadeiro.
Não sabia os pobres viandantes,
Que o tesouro de ouro não era não,
Nem de esmeraldas, nem de diamantes,
O tesouro era Campos do Jordão.
Nota: A Lenda do Jordão não tem base histórica, pois o tesouro sepultado era de Ignácio Caetano de Carvalho, que obteve uma sesmaria, mas o povo o chamava de "Tesouro do Brigadeiro Jordão" que não conheceu sequer as terras que adquirira.