MAIS UMA LENDA DE CAMPOS DO JORDÃO
A lenda data de 1880, depois que os herdeiros de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho desfizeram-se da Fazenda Bom Sucesso, no Alto da Mantiqueira.
Habitavam estas paragens serrana os Ãndios, que viviam da caça e do peixe, utilizando utensÃlios feitos de pedra, desde a Pedra do Baú até a Tabatinga. Moravam em cavernas e eram livres como pássaros, entoando as suas melodias na solidão dos campos e qual abelhas, deliciavam-se do néctar das mais belas flores, que brotavam aqui e acolá, em abundância.
Embora os Ãndios tivessem chegado primeiro ao lugar, agora a terra tinha donos, e, por isso, os Ãndios foram expulsos e dizimados, ora pela perseguição dos senhores da terra, ora pelas doenças dos brancos.
Uma das últimas aldeias a resistir foi a dos Tabacos (Tabatinga), onde eram chamados de bugres. PacÃficos, não atacavam ninguém, mas em 1880, já se dizia que a terra já estava “limpaâ€. Nesse tempo, falava-se da Lenda da Floresta, envolvendo uma figura que, estranhamente, aparecia por detrás das árvores, e, quando alguém se aproximava, o vulto corria mato afora, desaparecendo rapidamente.
Alguns achavam que era um animal esquisito, outros imaginavam que o vulto era o de um macaco. Outros ainda diziam que era o “corpo seco do matoâ€, que carregava os filhos que desobedeciam e que se transformava também em corpo seco e havia pessoas que imaginavam tratar-se de um matuto do mato, que rondava as mulheres, quando elas faziam as suas necessidades.
Muitos deixavam de caçar, imaginando que se tratava de uma assombração. As mulheres ficaram muito assustadas e não iam mais buscar lenha na mata fechada.
Um dia, os homens se reuniram e marcaram data “pramode distrinchá esse assuntoâ€. Cartucheira com cano cheio, munidos de laços, arriaram de seus cavalos e começaram a matear e campear, quando, de repente, encontraram uma trilha.
Os cachorros acharam uma pista, quando um dos homens gritou: “Qual o quê gente, é rastro de criança!†O outro examinou o barro que fixava as pegadas à beira do rio e disse: “Óia, o bicho é muié, cruz credo, crendospadre!â€
Procuraram o dia todo e quando o sol já se escondia, nada fora encontrado. Era um caso esquisito, pois o bicho se escondia na terra misteriosamente. Quando já estavam desistindo das buscas, um dos homens mais velhos, observou um fato estranho: quando os homens perseguiam os Ãndios (que eles chamavam de bugres), os caçadores pareciam encantados, sumiam de um lado da montanha para aparecer do outro lado do morro. “Cruz credo! Vamo deixa para manhã. Nóis madrugaâ€.
De madrugada, arrumaram todas as tralhas, pegaram os cavalos novamente e subiram a montanha. Lá de cima, começaram a observar o vale. De repente, viram lá em baixo, à beira do riacho, uma personagem de baixa estatura, pele morena, cabelos ao vento, passos ligeiros, com um jeito meio arisco. Ela pegava água, sumia novamente e retornava para se banhar nas águas cristalinas do ribeirão.
Chegaram afinal a uma conclusão: o bicho do mato era uma bela indiazinha, ainda adolescente, que amedrontava as mulheres da vila.
Logo, a indiazinha fez tremer o coração de um jovem que fazia parte dos caçadores: “Vamo pega ela, mas cuidado, eu vô amansa esse bicho para mim e inda acabo casando com elaâ€.
Quando o rapaz disse isso, houve um alvoroço. A indiazinha se assustou, correu em desabalada carreira e, quando mais atiçavam os cachorros, mais ela corria, embrenhando-se no mato. Encurralada, ela sumiu no meio das pedras. Os homens ficaram guardando o local.
Quando menos se esperava, por entre as pedras, surgiu o belo rosto da moreninha da mata e, como corisco, ela tornou a escapulir no campo aberto.
Um dos caçadores jovens pegou o laço, jogou-o, a corda rodopiou no ar e a bela indiazinha que corria com os longos cabelos esvoaçando no ar, acabou sendo laçada. Depois de muito trabalho, levaram-na para casa.
Ela estava arisca e assustada. Não era para menos, assistira os seus familiares serem dizimados e expulsos de suas terras e agora, era caçada como bicho do mato.
Depois de um bom tempo, foi amansada, casou-se com o jovem que a laçara e teve muitos e muitos filhos.
Seus descendentes são atualmente centenas de jordanenses anônimos, espalhados pelas vilas de Campos do Jordão.
Esta lenda foi recolhida de um neto de Ãndia, Ambrósio da Silva, de 86 anos de idade, morador de Campos do Jordão, pela jovem senhora Neuza LÃdia Silva de Souza, mãe de 5 filhos e moradores de Vila Santo Antonio. A pesquisa data de 1987, quando Neusa LÃdia cursava a 5ª série da EEPSG “Theodoro Corrêa Cintraâ€.
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