SUÃÇA BRASILEIRA ?
Há 10 anos, entrevistado pela grande imprensa paulista, o professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo, Eduardo Yazigi, autor do livro “Alma do Lugarâ€, fez uma apreciação crÃtica sobre a identidade de Campos do Jordão. Disse ele que o turismo só pode fazer sentido, como o encontro de diferenças, como por exemplo: “Se vem a Paris é porque é diferente de São Pauloâ€. A Capital francesa é exemplo de cidade feita para o cidadão e não para o turismo e que por isso mesmo se tornou atração turÃstica. Campos do Jordão, na sua visão, é um caso oposto, porque a diretriz recente de prefeitos e vereadores tem compactuado com o professor considera “a mentira de SuÃça Brasileiraâ€. Alega o mestre que se trata de mentira dupla, por imitar traços culturais alheios e por escamotear disparidades sociais inexistentes na SuÃça. Ele diz: “todo lugar tem sua alma. Essa alma é feita por todo o mundo fÃsico e pelo que não parece no fÃsico, mas que faz, por exemplo, que uma Catedral e um prédio da Bolsa de Valores, com o mesmo estilo neo-clássico, despertem sentimentos diferentes. O que faz a alma do lugar é a paixão do homem por ele, de geração em geração. As periferias das grandes cidades são lugares sem alma. Não há condições para que seus moradores tenham vÃnculo afetivo com o lugar perverso em que vivem. Nós estamos nos modificando pelo lado perverso da globalização. DestruÃmos toda nossa herança cultural e arquitetônica. O que sobrou como identidade fÃsica? É a geografia fÃsica. Não globalizo a Serra do Mar; ela continuará diferente da Floresta Negra alemã.†A apreciação do professor é ácida: “Turismo é incompatÃvel com miséria. Não adianta você ter um hotel cinco estrelas e o turista sair à rua e ser assaltado, assassinado ou dar com a cara com uma favela, que, no caso de Campos do Jordão, está virando as montanhas. Quando você sai do bairro Abernéssia em direção ao Palácio do Governo, vê um mar de favelas.Não acho que a arquitetura deva imitar o resto do mundo com uma subservência cultural. O bairro de Capivari, por exemplo, é, escandalosamente, uma tentativa de imitar a SuÃça. Isso é uma mentira. Os turistas europeus que vem aqui são muitos discretos em não debochar da nossa cara. A verdadeira identidade de Campos do Jordão está no bairros de Abernéssia e Jaguaribe. Já em Capivari, as pessoas tem que botar madeirame nas fachadas para que estas pareçam suÃças. Começaram a cultuar tanto a imagem de “lugar do frio†que, quando não tem frio as pessoas não vão lá, ao contrário das montanhas da Europa. Então, começam a inventar festivais de tudo no resto do ano porque os hotéis fecham. Quisera Deus, Campos do Jordão tivesse os padrões suÃços. Suiça Brasileira com favela,com lixo acumulado na rua, sem escolas, nem hospitais? Campos do Jordão ainda tem lugares de uma beleza excepcional, sobretudo, na área rural. Não que eu ache feio o que está em Capivari. Só que é uma mentira, até porque adota uma arquitetura do século 19. A SuÃça de hoje não é essa. Bariloche (Argentina) que teve efetiva ocupação alemã, não cai nesse simulacro. Em toda Serra da Mantiqueira, inclusive em Campos do Jordão, ignorou-se solenemente toda inspiração que poderia vir da arquitetura colonial e até da caipira, que hoje é de uma beleza e simplicidade enormes.†Permitimo-nos fazer um reparo à análise do ilustre professor. A legenda “SuÃça Brasileira†não é uma diretriz recente de prefeitos e vereadores. Como escrevemos em “História de Campos do Jordãoâ€, livro esgotado, essa aureola foi criada no século 19, em 1841, pelo Dr. Domingos Jaguaribe quando escrevia no Jornal do Comércio†do Rio de Janeiro, exaltando a natureza jordanense. Quem sabe, em 1891, Campos do Jordão era semelhante à SuÃça?
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