A MÃE MORTA SALVOU O FILHO
O doutor Carlos Ryoma que foi médico pneumologista em Campos do Jordão nas recuadas décadas de 40 e 50, contou ao seu filho Ryoke Inoue um episódio deveras impressionante.
Depois de longa permanência em nossa cidade, onde trabalhou como tisiologista, o médico acompanhado de sua esposa professora La Salete de Alpoim Inoue, mudou de residência para a cidade de Taubaté.
Numa de suas idas e vindas pela Rodovia Presidente Dutra, dirigindo seu veÃculo à noite, deparou, na altura do municÃpio de Pindamonhangaba, mais oumenos no local onde morreu tragicamente o cantor Francisco Alves, o Rei da Voz, um gra¬ve acidente de ônibus do Expresso Brasileiro.
Ônibus tombado no acostamento de um lado e um caminhão de outro. A PolÃcia Rodoviária sinalizava o local com iluminação de alerta, pedindo aos veÃculos a redução da velocidade.
Inúmeras ambulâncias alinhavam-se com as viaturas policiais. E um espetáculo dantesco: inúmeros corpos, de passageiros do ônibus, vÃtimas do desastre, jaziam emfileirados ao longo do acostamento.
O médico Carlos Ryoma Inoue, ao deparar-se com aquele quadro terrÃvel, parou o seu carro, oferecendo à PolÃcia Rodoviária os seus serviços de profissional da medicina.
Um dos guardas rodoviários foi dizendo: “Obrigado, pode tocar em frente que, como o senhor vê, não há ninguém vivo ou ferido entre os passageirosâ€.
Carlos Ryoma Inoue ligou o seu automóvel e prosseguiu viagem, transtornado com a visão dantesca que tivera, mas ao chegar um quilômetro à frente, através dos faróis do veÃculo, percebeu que uma mulher, com as vestes ensangüentadas, fazia sinais enérgicos com a mão para que ele parasse o veÃculo à beira da rodovia.
Extremamente assustado, o médico jordanense reduziu a velocidade e foi parando, quando a mulher aflita e desesperada, aproximou-se da janela do veÃculo e disse: “Moço, por favor, volte ao local do acidente. Entre os corpos que estão no acostamento há uma criança viva nos braços de sua mãe. Volte, por favor!â€
Tornou a insistir: “Volte, por favor!â€.Contrariado, o médico re¬tornou ao local do acidente. Esta¬cionou o seu automóvel e, vaga¬rosamente,foi se aproximando do horrÃvel local do acidente, on¬de jaziam inúmeros corpos inani-mados e estendidos.
O dr. Carlos Ryoma lnoue, passo a passo, foi conferindo, um por um, embora na escuridão, os cadáveres, procurando, sobretu¬do, um corpo de mulher.
Aproximou- se dela, ligou a sua lanterna e logo identificou a mulher que, há poucos minutos lhe fizera sinais para que estacionasse. Exclamou: “Meu Deus é a mesma mulher!â€.
E junto ao seu corpo, que encostava em outro cadáver, sob os seus braços, havia um bebê também ensangüentado.
Percebendo os sinais vitais na criancinha, rapidamente tomou-a em seus braços, e chamou a PolÃcia Rodoviária que providenciou os socorros a aquele pobre sobrevivente que passava despercebido por entre os corpos inanimados.
A criança foi salva, graças a mãe morta.
O médico não contou aos policiais rodoviários que fora a própria mãe que o fizera retornar local do acidente. Não fê-lo porque achariam que estava louco ou ficara desnorteado ante a visão terrÃvel da tragédia. Disse apenas que uma força interior muito poderosa, o fizera regressar.
IncrÃvel, mas verdadeiro. A mãe morta salvou o filho.
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