A SAUDADE É O PERFUME DA AUSÊNCIA
Voltaire escreveu que a advocacia é a mais bela das profissões. Esqueceu-se de dizer, contudo, que é a mais sofrida de todas. O saudoso jurista Manoel Pedro Pimentel observou que, dentre tantos inimigos que tem de enfrentar, o cliente é o maior deles: “Muitos anos se passaram antes que eu pudesse entender o porquê dessa amargura. E será preciso que vivam muito, sofram muito, se desencantem muito para entendê-lo também. Sim, o cliente é o responsável pelas noites de insônia, pelos dias sem alimentação, pelas férias não gozadas, pelos fins de semanas frustrados, pelo aumento da pressão arterial do advogado, pela anulação de sua vida familiar. E tudo isso, afinal, em troca de honorários, sempre reputados elevados e injustosâ€.
Mal se levanta, começam, em louca ebulição, na sua cabeça as mil e uma hipóteses que tem que resolver, aludiu o advogado português Ari dos Santos. Enquanto um processo não está sendo julgado, não tem um minuto de tranqüilidade. As causas dos outros são as suas, e, por isso, a vibração dos seus nervos é a soma das vibrações dos nervos de seus clientes. O advogado transforma a ansiedade e a preocupação alheias na sua própria ansiedade, na sua própria preocupação. A ansiedade de ver triunfar na causa que, sendo alheia, fez sua, o seu bom nome profissional. O cérebro do profissional da advocacia está todo impregnado de preocupações e incessantemente em elaboração. Ele tem que ter muita paciência, paciência para escutar – cada cliente considera seu caso o mais importante do mundo; paciência para encontrar a solução; paciência para enfrentar o adversário; paciência para aguardar a sentença e sobretudo paciência para suportar uma sentença adversa. De fato, o clima da vida do advogado é a luta, constante e infindável. Cabem a eles os versos de Bertold Brech: “Há homens que lutam por um dia/ Esses são bons. Há homens que lutam por um ano/ Esses são os melhores. Há quem luta por muitos anos/ E esses são os melhores. Porém, há os que lutam por toda a vida/ Esses sã imprescindÃveisâ€.
Neste mês, faleceu, repentinamente, o advogado José Paulo Lopes, surpreendendo a todos os jordanenses. Um dos melhores advogados que tem militado nesta Comarca. Teve origem humilde, com esforço próprio e perseverança, graduou-se em Direito, dedicou-se ao estudo e a militância intensa e era considerado um grande advogado civilista e empresarial. De repente, o coração falhou pelo acúmulo de tantas preocupações, incompreensões, amarguras e desafios que acometem o bom profissional da Advocacia.
Fidalgo, gentil, obsequioso e tenaz lutador nos foros e tribunais de tantas causas, foi admirado pela sua conduta correta e exemplar. Era um advogado ético.
Nem sempre o advogado consegue chegar sadio aos setenta anos, que na expressão de Varrão, é o começo da velhice. As tribulações de sua vida marcada de relâmpagos emocionais, se não o prostam hipertensos ou cardÃacos, levam-no à estafa, ao estresse, à neurose, quando não à morte. Evaldo Gomes Bragança explicou que a advocacia é uma profissão de risco: “o horário, o prazo, a coincidência de audiências, o mau atendimento cartorário, o despreparo dos juÃzes, promotores e colegas, são circunstancias que trazem à vida do profissional um grau de aflição que pode se tornar insuportável. Em resumo a profissão não é saudável, mas é maravilhosa. Deus chamou, prematuramente, o advogado José Paulo Lopes; restou a saudade que é o perfume da ausência. |