O SACRISTÃO ANALFABETO
Neste altiplanos jordanenses, bafejados com o hálito de Deus, acontecem coisa que até o diabo desconfia. Meu amigo Milton Carvalho me contou uma delas, ocorrida lá pelos recuados anos da década de 40, no tempo em que Campos do Jordão ainda era do jeito que Deus o havia criado.
Genivaldo era um desses tantos nordestinos que migraram do sofrido Nordeste para São Paulo, em busca de dias melhores e menos sofridos.
Na capital paulista fez de tudo, trabalhava durante o dia e a noite, não se alimentava direito porque não tinha dinheiro, enfrentava a garoa friorenta da madrugada, e como não podia deixar de ser, contraiu tuberculose, vindo desembarcar em Campos do Jordão como indigente, enfermo e analfabeto. Pobre Genivaldo!
Naquela heróica, mas precária estação de cura de moléstia pulmonar, conseguiu o milagre de obter cura natural. E agora? Era preciso trabalhar. Bateu de porta em porta em busca de emprego e nada!
“Estou aperreadoâ€, dizia ele. Estava curado, mas precisava comer e morar e o desemprego naquela época era igualzinho ao dos tempos atuais.
Foi quando alguém lhe segredou aos ouvidos para procurar a Igreja, pois, talvez o padre poderia ajuda-lo. Genivaldo procurou a paróquia e contou ao padre a sua situação aflitiva, ao que o sacerdote foi logo dizendo: “Está bem. Você vai morar aqui na Igreja e em troca vai cuidar da limpeza, zelar pela conservação das imagens, limpar os vidros das janelas e manter os bancos da Igreja bem limpos e brilhantesâ€.
Passados alguns meses, Genivaldo pediu ao padre para ajudar na missa, nos batizados e casamentos. O padre lhe respondeu: “Infelizmente, não será possÃvel porque para ser sacristão, você precisa saber ler e escrever. Continue fazendo o seu serviço que estamos muito contentes!â€
Entretanto, Genivaldo começou a observar o grande movimento de fiéis que entravam e saÃam da igreja e no local não havia nenhum tipo de comércio. Pediu ao padre autorização para montar uma barraca no terreno baldio, a trinta metros da escadaria da igreja.
Autorizado, Genivaldo ali começou a vender refrigerantes, balas, biscoitos, doces, cigarros e uma pinga pura da roça.
O seu comércio progrediu tanto que o nordestino acabou comprando um terreno próximo dali, onde montou um armazém de secos e molhados. Decorridos alguns anos, Genivaldo já havia comprado uma fazenda existente nas proximidades.
Foi crescendo financeiramente e dez anos depois, já estava comprando trator para arar a terra, caminhão e muitas cabeças de gado.
Como aquele ex-doente do pulmão apresentava sinais de riqueza, o gerente do banco logo o convidou para visitar a agencia e tomar um cafezinho. Genivaldo não se fez de rogado e atendeu ao convite, indo à agencia bancaria no dia seguinte. A funcionária logo trouxe o cafezinho e a papelada para Genivaldo abrir uma conta-corrente.
O gerente lhe disse: “Seo Genivaldo, peço a o senhor que leia o contrato e o assine para abrir uma conta-corrente em nosso bancoâ€. Sem jeito e envergonhado, Genivaldo olhou para o gerente e respondeu: “O senhor me desculpe, mas eu não sei ler nem escrever. Sou analfabeto!â€
O gerente não se conformou e retrucou: “Não é possÃvel! Como o senhor não sabe ler e nem escrever, possuindo tão grande patrimônio? Imagine, então, se o senhor soubesse ler e escrever!â€
O nordestino Genivaldo na hora sacou a seguinte frase que quase desmontou o gerente da sua poltrona: “É, senhor gerente, se eu soubesse ler e escrever, hoje eu seria sacristão!â€
|