VINGANÇA DOS JORDANENSES
Os jordanenses suportaram os mais terrÃveis preconceitos no tempo em que a cidade era uma famosa estação de cura da tuberculose, lá nas recuadas décadas de 1930/1940. Eram preconceitos dos mais variados matizes e formas, alguns até hilariantes como o famoso: “Tosse, rouquite e bronquidão – Campos do Jordãoâ€.
Meus pais, quando tuberculosos, viveram esse dramático tempo. É que, à época, a doença era considerada incurável, terminal, tal como é atualmente a AIDS. As pessoas tinham verdadeiro pavor da tuberculose, fugindo dos enfermos como o diabo foge da cruz. Viajantes subiam a serra para vender seus produtos, e quando chegavam à cidade levantavam os vidros dos automóveis, usando luvas. Jamais entravam em restaurantes e botequins para um lanche ou refeição. Usar copos e xÃcaras jamais. Chegavam e retornavam imediatamente. Alguns pais levavam suas esposas grávidas para darem à luz em outras cidades, para que, nascendo os filhos, não figurassem na certidão de nascimento “natural de Campos do Jordãoâ€.
Comerciantes locais, ao viajarem a São Paulo para fazer compras, quando indagados sobre a sua procedência, diziam que moravam em Sto Antonio do Pinhal, São Bento do SapucaÃ, Pindamonhangaba, ou qualquer outra cidade. Jamais em Campos do Jordão.
Nos tradicionais Jogos Abertos do Interior todas as delegações esportivas das cidades do interior eram hospedadas em um único local. Somente os atletas jordanenses eram abrigados em outro ginásio, separadamente. Na verdade, havia um entendimento estúpido de que, quem residia em Campos do Jordão era tuberculoso. Grave injustiça, pois a estação de cura somente recebia doentes de todos os Estados brasileiros. Dificilmente, se encontrava algum jordanense doente e quando isso ocorria, a enfermidade fôra adquirida por contágio de doentes recém chegados à cidade.
Na inauguração do Estádio Municipal do Pacaembu, em São Paulo, a Estância enviou meia dúzia de atletas para as festividades, tão somente para fazer presença e homenagear o Interventor Adhemar de Barros, que foi um grande propugnador do progresso de Campos do Jordão. À medida que as delegações das várias cidades do interior de São Paulo desfilavam, o público das gerais e arquibancadas explodia em aplausos, quando as anunciavam ao microfone. Quando o locutor anunciou o desfile da delegação jordanense, que à frente, levava a faixa “Campos do Jordão saúda o Interventor Adhemar de Barros, estranhamente, houve um silencio profundo e constrangedor. Os aplausos somente vieram quando Adhemar de Barros deu inÃcio à salva de palmas. Terminada a inauguração, o público e as dezenas de delegações esportivas começaram a se retirar do estádio, em busca de ônibus e automóveis. A delegação jordanense dirigiu-se ao ponto de ônibus, cujos veÃculos chegavam e partiam abarrotados de passageiros. Uma tentativa, duas, três e a delegação jordanense comprimida na multidão não conseguia entrar nos coletivos. Eram muitos passageiros para poucos ônibus. AÃ, José Bernardino, chefe da delegação, teve uma idéia genial. Pediu a dois atletas que desenrolassem a faixa que traziam debaixo do braço, e, logo que aberta, surgiu: “Campos do Jordão saúda o Interventor Adhemar de Barrosâ€. Foi como se explodisse uma bomba no local, pois, como que por encanto, esvaziou-se o ponto de ônibus num passe de mágica, ficando ali somente os seis atletas jordanenses, que sozinhos, subiram ao veiculo, dando gargalhadas escandalosas. Enfim, uma vingança dos jordanenses!
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