PADRE NOSSO COMUNISTA
Em 13 de julho de 1943, o Frei João Crisóstomo, irmão do Cardeal Evaristo Arns, era o vigário em Campos do Jordão. Ele compareceu à Delegacia de PolÃcia, comunicando que no dia anterior, alguns católicos trouxeram-lhe um folhetim revoltante, que espalharam pela cidade, desrespeitoso à Igreja Católica, porque redigido de forma grosseira, insultuosa e irresponsável.
O folhetim ofensivo à Igreja fora feito na antiga Tipografia Pinheiro, onde o frei Crisóstomo encontrara grande quantidade da publicação, já pronta para ser distribuÃda. Informou o sacerdote à autoridade policial que os folhetins haviam sido impressos pelo Partido Comunista da cidade, sob a responsabilidade de Aureliano Vasques Moreno, conhecido membro comunista em Campos do Jordão. O Padre-Nosso estava redigido da seguinte forma: “Macedo nosso que estais no Reino, putrificado seja o vosso nome, venha a nós Luiz Carlos Prestes. Seja feita à vossa vontade, assim em São Paulo, como em todo o Brasil. O pão nosso de cada dia ... três dias nos daà hoje. Perdoai aos nossos padeiros, assim como nós perdoamos a falta de trigo. Não nos deixai cair no domÃnio americano. Livrai-nos, Prestes, desse mal, amém!†A referência a Macedo era porque o dr. José Carlos de Macedo Soares governava o Estado de São Paulo e a de Luiz Carlos Prestes se justificava porque se tratava do grande lÃder comunista no Brasil. Havia uma anotação no folhetim: “Para ser lida na fila do pãoâ€, porque à época, deveria estar racionado o consumo de farinha de trigo. Acionado o Departamento de Ordem PolÃtica e Social de São Paulo – o DOPS – indiciou ele o cidadão Raul Arruda Reis Junior, residente na capital paulista. O indiciado informou que, de fato, pedira a Aureliano Vasques que providenciasse a impressão de 500 folhetins para serem distribuÃdos em Campos do Jordão, tendo conhecimento que Aureliano era de nacionalidade argentina. Alegou ser comunista, mas, que apesar de tudo, era católico. A finalidade da distribuição era a de dar conhecimento ao povo jordanense do que estava ocorrendo na capital paulista. No seu depoimento, o indiciado manifestou o seu protesto contra a atitude de se impedir a liberdade de pensamento, pois, todos os folhetins impressos foram recolhidos pela PolÃcia paulista. Alegou que não tomou essa atitude como comunista, mas, como cidadão brasileiro. Através do Cardeal Arns, localizei o endereço do frei João Crisóstomo em Curitiba, pedindo-lhe um depoimento. Ele me atendeu e enviou-me o seu livro “Além e Aquém dos Horizontesâ€, onde contou que recordava com saudades os belos anos de 1940 a 1947, quando viveu em Campos do Jordão, no Convento dos Padres Franciscanos, em Vila Britânia. Contou que, ao romper da guerra, em 1943, a PolÃcia Especial começou a investigar até as igrejas de alemães e italianos. Era a psicose de guerra que dominava o Brasil todo e até a cidadezinha das “Floradas na Serraâ€. Ninguém sabia nem como nem porquê. Mas, voltando ao Padre-Nosso comunista, não conseguimos descobrir qual o desfecho do inquérito policial que indiciou Raul Arruda Reis Junior, um comunista que ofendeu a Igreja Católica, mas, que, surpreendentemente, declarou-se católico. Essa é boa!
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